1980-1989 - Contagem de cadáveres Um assassino psicótico surgido num Dia das Bruxas em Halloween, a Noite do Terror (Halloween, 78), de John Carpenter, deu o pontapé inicial às intermináveis cine- séries estreladas por serial killers. Continuando sua saga em mais cinco filmes, o mascarado Michael Myers também originou outros "matadores do calendário", como o calado Jason Voorhees - sempre escondido atrás de sua máscara de hóquei - da série Sexta-Feira 13 (Friday the 13th, 80) ( Fig.83 ) , chegando ao nono filme com Jason vai para o Inferno - A Última Sexta Feira (Jason Goes to Hell - The Final Friday, 93). Freddy Krueger (o assassino de rosto derretido que usa uma luva com unhas metálicas tão afiadas quanto seu humor negro) surgiu no brilhante A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street, 85) ( Fig.84 ) , de Wes Craven, voltando em mais seis capítulos, retomado pelo criador no fascinante horror metalinguístico O Novo Pesadelo - O Retorno de Freddy Krueger (Wes Craven's New Nightmare, 94) ( Fig.85 ) . Os dois psicopatas tornaram-se ícones da cultura pop, cultuados por adolescentes que até hoje aguardam o prometido filme reunindo a dupla de vilões - sugerido após a morte de Jason no final do nono capítulo. Enquanto Halloween revelava o talento gritante de Jamie Lee Curtis, revivendo as clássicas scream queens (abrindo espaço para Cassandra "Elvira" Peterson, Brinke Stevens, Linnea Quigley, Julie Strain e tantas outras fazerem sua fama), A Hora do Pesadelo transformou Robert Englund no único grande astro de horror dos últimos vinte anos, a seguir interpretando personagens como O Fantasma da Ópera e o Marquês de Sade. Outros filmes de matança surgiram na rabeira de Halloween - basicamente massacres de adolescentes em datas comemorativas. Aniversário Sangrento (Bloody Birthday, 81), Feliz Aniversário para Mim (Happy Birthday to Me, 80), Dia dos Namorados Macabro (My Bloody Valentine, 81), Revellion Maldito (New Year's Evil, 80), A Morte Convida para Dançar (Prom Night, 80) e muitos outros paupérrimos filmes de horror apenas promoviam carnificinas de estudantes. Um revival mais nobre retomou o mito da licantropia a partir de 1980, quando Joe Dante lançou Grito de Horror (The Howling), com impressionantes cenas de transformação do homem-lobo. O sucesso se repetiu com Um Lobisomem Americano em Londres (An American Werewolf in London, 81) ( Fig.86 ) , de John Landis, novamente destacando os efeitos visuais; culminando com o delirante conto de fadas sangrento À Companhia de Lobos (The Company of Wolves, 84), instigante produção inglesa de Neil Jordan. A literatura de horror foi redescoberta através das obras macabras do americano Stephen King, primeiro com Carrie, a Estranha (Carrie, 76) e O Iluminado (The Shining, 80) ( Fig.87 ) . O filão milionário continuou sendo explorado numa série que ultrapassou os trinta filmes, desde Creepshow: Arrepio do Medo (Creepshow, 82), Christine, o Carro Assassino (Christine, 83), O Cemitério Maldito (Pet Sematary, 89) ( Fig.88 ) , Louca Obsessão (Misery, 90) e A Metade Negra (The Dark Half, 91), até o recente O Grito do Terror (Mangler, 95), com Robert Englund. No final da década foi a vez do jovem escritor inglês Clive Barker retomar a abordagem mais séria e adulta do horror, com o complexo Renascido do Inferno (Hellraiser, 87) ( Fig.89 ) , introduzindo o universo dos cenobitas comandados por Pinhead, o sádico demônio com cabeça coberta de pregos. O sucesso motivou o retorno destes demônios extra-dimensionais em mais três filmes, que tentaram expandir seu mundo mas acabaram fazendo um pastiche da obra original. O horror sanguinolento comandou a década através das adaptações de inúmeros contos clássicos de H.P. Lovecraft - finalmente descoberto pelo cinema, meio século após sua morte - e suas criaturas indescritíveis, chegando às telas com Re-Animator - A Hora dos Mortos Vivos (Re-Animator, 85) ( Fig.90 ) , Do Além (From Beyond, 86), A Abominável Criatura (The Unnamable, 88) e suas respectivas continuações. Mas nem todos queriam levar o terror a sério e logo surgiram paródias como A Hora do Espanto (Fright Night, 85) ( Fig.91 ) , desencadeando uma série de filmes que pareciam mesmo querer desmoralizar o gênero. Alguns são bem interessantes, agradando tanto fãs de horror quanto a platéia que prefere rir, como O Ataque dos Tomates Assassinos (Attack of the Killer Tomatoes, 80), O Vingador Tóxico (The Toxic Avenger, 85) ( Fig.92 ) , Palhaços Assassinos (Killer Klowns from Outer Space, 88), O Ataque dos Vermes Malditos (Tremors, 90) e até mesmo Gremlins (1984) e seus derivados - critters, munchies... No Brasil, o impagável Ivan Cardoso lançava o terrir (terror com humor) com O Segredo da Múmia (1982) ( Fig.93 ) e As Sete Vampiras (1986) ( Fig.94 ) , tornando-se o único representante do gênero no país. Com o quase esgotamento das fórmulas e mais uma vez este segmento abandonado pelos grandes produtores, o horror ressurgiu no cinema B de mais invenção e efeitos improvisados. Sam Raimi lançou de maneira independente seu magistral A Morte do Demônio (The Evil Dead, 83) ( Fig.95 ) , que teve sequência com os sofisticados Uma Noite Alucinante (Evil Dead 2, 87) ( Fig.96 ) e Uma Noite Alucinante 3 (Army of Darkness, 93) ( Fig.97 ). Da Nova Zelândia surgia Peter Jackson com seus inacreditáveis banhos de sangue, Trash - Náusea Total (Bad Taste, 88) ( Fig.98 ) e Fome Animal (Braindead, 92), até ganhar Hollywood com o show de pirotecnia de Os Espíritos (The Frighteners, 96) ( Fig.99 ) .